Bem, chamem me Grinch, ou desmancha prazeres, ou insensível, mas eu vou dizer:
EU ODEIO O NATAL.
“Oh Tânia porque odeias o Natal?”
É simples.
1. É falso. Sim é falso. As pessoas na época natalícia de repente tornam-se todas amáveis, amorosas, ternas e doces.
“Desculpa lá a rapariga, é Natal”
“Faz lá a vontade ao homem, é Natal”
Amável deve-se ser sempre. Aliás, ou a pessoa é amável ou não é. Ponto.
2. É triste. Sim é. Reparem bem... as músicas, os coros das criancinhas, as luzes... eu acho que isso deixa uma pessoa super melancólica!
E depois existem aqueles momentos que é inevitável não lembrar de coisas tristes. Pessoas que partiram, pessoas que estão longe, pessoas que estão presas, pessoas que estão doentes, pessoas que são feias, e um sem fim de coisas tristes. Eu para além de pensar nestas coisas todas, ainda penso nos animais que andam ao frio abandonados na rua. Penso sempre, é algo que me magoa muito, todos os dias. Mas pensem comigo.... imaginar um animal sozinho na rua, abandonado, ao frio e à chuva (em algumas regiões, na neve) ao som daquele coro de criancinhas e acompanhado com as luzes de natal. Dá ataques.
3. É estafador. Sim, muito. Isto não se aplica muito no meu povo (cigano). Por acaso, nós os ciganos não aderimos ao consumo natalício da mesma maneira que o resto das pessoas fazem. Claro que damos presentes, claro que ficamos com os cabelos brancos tentando arranjar dinheiro para os presentes dos filhos e tal, mas não nos sentimos na obrigação (maneira de falar) de dar presentes à tia Arlinda, ao tio Anacleto, ao primo Bonifácio, à madrinha Eulália, ao padrinho Anselmo, aos vizinhos, aos pessoal da empresa e colegas de trabalho, aos sogros, aos primos, aos afilhados bla bla bla.
Pode haver alguém que não seja cigano e que me diga que não vive essa pressão natalícia, como posso conhecer pessoas da minha cultura completamente aderentes ao “espírito natalício”. Sim claro que pode. Lembre que falamos num modo geral.
E os presentes acredito que não sejam caros, que tenham sido adquiridos em tempos de saldos e tal. Mas a questão é que o povo compra. Consome de uma maneira louca e desenfreada.
Conheço pessoas que entram em depressão por causa do natal, pessoas que pedem empréstimos, e pagam durante todo o ano, só para os presentes de Natal. Eu não chamo isso de uma época feliz. Chamo isso de opressão.
Deus me livre se eu tivesse que comprar presentes a todos os meus afilhados (tenho 9)
Se tivesse que dar presentes a todos os meus tios (tenho 14, todos casados)
Eu tenho primos que nem conheço ainda. Primos direitos. Não são aqueles primos de 19 grau.
Não há nada de mal em que as pessoas se sintam felizes nisso. Mas será que é correto sentir-mo-nos bem por podermos exercer o nosso poder de compra em prol da satisfação de necessidades supérfluas, e muitas das vezes egoístas?
Quando o Natal se aproxima eu observo muito as pessoas e examino essa data. Será que passamos valores humanos para as nossas crianças ao comemorar um Natal onde os presentes são o factor mais importantes da festa?
A questão é que o Natal supostamente não deve de ser isso. Mas é.
4. O natal confunde-me. Todos os anos dá aquele programa na televisão que salvo erro chama-se “Natal nos hospitais”, onde pessoas caridosas doam brinquedos às crianças.
As crianças são crianças em toda a altura do ano. É só no natal que se deve doar?
Parece que as pessoas esperam pela chegada do natal para por os seus males, erros, pecados e outros afins em dia, tentando aliviar-se ou sentir-se melhor pessoa, em doar brinquedos, alimentos, dinheiro, a várias instituições.
“É melhor uma vez ao ano do que nunca.” Sim também é verdade. Mas, para quem não lhe custa doar 10 euros a uma instituição, ou para quem não lhe custa comprar uma boneca, não pode fazê-lo mais vezes?
Se realmente a pessoa possui um coração humanista, o correto não seria ser humanista sempre? Não sei, talvez seja mesmo um Grinch, mas é a minha opinião. Estas coisas confundem-me.
E ah... ainda estou para entender porque associam o Natal ao nascimento de Jesus. Quando Jesus não nasceu em dezembro. Mas prontos, isso é outro tema.
5. O Natal é chato. Para muita gente é. Muitas pessoas, vivem a obrigação de reencontrar e conviver com alguns familiares, alguns amigos, dos quais não se gosta nada. Ou que são inconvenientes. Todos temos aquele familiar que nos aperta as bochechas como se ainda tivéssemos 5 anos. Todos nós conhecemos aquela pessoa que te dá um beijo na passagem de ano como se fosse uma ventosa e deixa-te a cara cheia de baba. Todos conhecemos aquela pessoa que pergunta ao solteiro/a:
“Tão... ainda não casas-te?”
Os que perguntam aos casais:
“Tão, não há filhos?”
Os que perguntam aos gordos/as:
“Tão, é este ano que emagreces?”
E tu com um sorriso amarelo só pensas para ti:
“Vai-te F...”
A questão é que presentes dá-se todo o ano. Amáveis devemos ser todo o ano. Caridosos devemos ser todo o ano. Preocupados com os animais, sem abrigo, órfãos e doentes, todo o ano. O Natal é todos os dias. O Natal é família. E a família está do nosso lado todos os dias.
E bem, apesar de eu amar o inverno, não sou amante do Natal. Contudo, passarei o Natal com a minha família. Onde iremos comer como se não houvesse amanha (comemos sempre). Onde iremos nos rir uns dos outros e de nós mesmos (como fazemos sempre).
Não haverá lugar para todos se sentarem. Não haverá loiça suficiente, os gritos das crianças, os cães a correr, a televisão no volume máximo (embora ninguém esteja a ver) a passará o filme do “sozinho em casa”, e os risos de todos que abafam qualquer pensamento.
Este Natal, para mim, para toda a minha família, será diferente.
Será o nosso primeiro Natal sem o meu tio que partiu à pouco tempo. Sem nada que previsse esse triste acontecimento, ficámos sem uma coluna da nossa família.
Eu lembro-me dele todos os dias, sinto a falta dele todos os dias. E sei que tudo passa, que o tempo tudo cura. Mas não... isto nunca vai passar. Sei que a morte chega a todos e que temos que estar preparados. Mas não, não estávamos. Era muito novo. Hoje há um vácuo que com nada é preenchido. E apesar de sermos uma família feliz, com um sentido de humor incomparável, temos noção de que as coisas nunca mais serão iguais. Somos felizes na mesma, sim, a vida continua, mas parece que a vida nos deixou a todos a mancar. Caminhamos, mas nunca mais da mesma forma.
E bem, quando eu lembro-me do meu amado tio, e lembro-me do Natal, recordo que, há muitos anos, era eu criança, os meus tios chegaram a casa com um galo. Vivo.
Segundo eles, iriam mata-lo para assa-lo nessa mesma noite. Os meus tios todos cozinham.
O meu tio pegou no galo, na faca, e fez o que tinha a fazer. Foi rápido. De repente, o galo levanta-se da pia, sem cabeça e começa a espernear como um possuído.
Só vemos o meu tio a correr para banca, a por a mão ao galo e TZASSSS outra facada.
O galo, sem cabeça e com uma facada extra repousa na banca.
Segundos passam, tudo parece tranquilo.
O meu tio vai lavar as mãos novamente, e já agora a banca que parece uma cena de crime.
Mas o galo levanta!!! Levanta, cai da banca e começa a correr, ou algo do género. As crianças a chorar, as mulheres a gritarem e os meus dois tios a correrem atrás do galo que não queria morrer. Dava terror.
Ambos atiram-se ao chão para o segurar, o meu tio Zé, que Deus o tenha, puxa novamente da faca e começa a dar-lhe facadas sem cessar. O galo ficou desfeito.
Cansados, a bufar, limpando o suor da testa, levantam-se incrédulos com o que aconteceu.
As mulheres e crianças que antes gritavam começaram a rir e achar um piadão ao que aconteceu.
Quando uma das minhas tias dá um grito:
“AAAAAAAAIIIIIIIIIIIII OLHA AÍ ESSE COISOOOOOOOOOOOO!!!!”
A sério... é .....o galo esperneou. Não com o mesmo fervor de antes, mas esperneou.
O meu tio puxa da sua 6.35 e deu um tiro no galo.
R.I.P galo.
De seguida foram ao talho comprar cabrito. Morto.
Tânia.
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