sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O holocausto silencioso

O holocausto provocado por Adolf Hitler ficou perpetuado nos campos de extermínio de Auschwitz?

Eu acredito que não.


Já há muito tempo que estou muito preocupada e que ando a dizer que um holocausto silencioso anda a ser desenvolvido a cada dia. Uns apercebem-se, outros não. O meu receio é que este deixe de ser silencioso e parta para algo mais radical.




Muitos dos meus amigos riem-se do que eu digo e dizem que eu viajo e que eu ando a exagerar. Será que é exagero?

Nos países de Leste, os ciganos são constantemente desalojados de suas casas (casas que eles mesmos constroem com materiais primários). Isto porque são sempre destruídas e incendiadas pelos gang’s da região.



As mulheres são violadas, e os homens são espancados e deixados nos cantos da cidade.
As mulheres dão entrada aos hospitais para darem à luz, são submetidas a cesarianas desnecessárias, obrigadas a assinarem documentos quando nem elas mesmas sabem ler, e acordam esterilizadas. 


Mulheres de 19, 20 anos esterilizadas para o resto da vida incapacitadas de terem mais filhos. Limpeza étnica a olho nu para quem queria ver.


Escolas de vários países não aceitam as crianças ciganas negando-lhes assim, a Educação à qual elas tem direito. Os pais das crianças que não são ciganas negam-se a aceitar que os filhos estejam em contacto com crianças ciganas e ameaçam em retirar os filhos de modo a provocar o encerro dos sistemas de Educação.




As crianças ciganas são assim colocadas à margem seguindo os passos dos pais a viverem no mundo do analfabetismo.

Depois acusam as comunidades ciganas de negarem-se à tão famosa inclusão de que todos falam. Como podem incluir-se? Sendo analfabetos ou com tão baixos níveis de escolaridade, como é que estas pessoas poderão ter emprego? Estão à espera que estas crianças sejam um dia médicos e advogados? Como poderão se-lo?




Na Suiça, os ciganos não vivem em apartamentos. Nem os ricos nem os pobres. Vivem em caravanas. Os ricos possuem caravanas e carros de luxo. Os pobres possuem algo mais humilde. 

Vão de terreno em terreno. Isto porque ninguém os quer como vizinhos e nem os consideram como cidadãos, ninguém se dispõem em alugar casas ou inclusive até, vende-las.



Para eles já é normal e adaptaram-se a esse modo de vida. Isto eu vi com os meus próprios olhos.
Pelo que me informaram, os ciganos na Suiça nem sequer tem direito ao bilhete de identidade. É como se não existissem no país. Sendo assim, são obrigados a apresentarem-se de x em x tempo na esquadra.




Na França, a nossa querida França, ainda há dias, uma noticia deu que falar. Uma bebé cigana  com apenas 2 meses de idade, faleceu de uma morte súbita no dia 25 de dezembro. Christian Leclerc, autarca de Champlan, comunidade do departamento parisie de Essonne,não quis autorizar o enterro no cemitério local onde a família residia. 



Ainda há dias também, fiquei a saber que na cidade de Lisboa, vários gang’s entram pelas casas dos ciganos, espancam os idosos, roubam as suas reformas e os seus bens valiosos, e os obrigam a abandonar a casa onde vivem. 

As entidades competentes dizem que nada podem fazer e que se dirijam a casas de abrigo.


A policia também diz que nada pode fazer porque os gang’s são compostos por pessoas que ainda não alcançaram a idade adulta. Que não sabem quem são, bla bla bla desculpas esfarrapadas.
São menores de 18 anos, mas a delinquência juvenil também é punida não? Pelos vistos não.



Quando eu vivia em Alicante, eu e as minhas amigas tínhamos medo de sair de casa depois das 21h...22h. Isto porque havia um bando de homens a rondar os bairros sociais, para poderem agarrar jovens ciganas com o propósito de viola-las. Conheço uma rapariga que teve o infortúnio de viver esse episódio.


Eu mesma senti que quase morria quando um grupo de neo-nazis rodeou-me com bastões de basebol na mão, perguntando-me o porque de eu estar a passar naquele quarteirão aquela hora. Supostamente, naquele bairro, de x em x hora o quarteirão era dos brancos, e noutro período de horas o quarteirão ficava livre para que as pessoas de cor, ciganos, latinos, asiáticos, pudessem passar.



 O que me livrou foram umas pessoas que passavam por ali, aproximaram-se e apelaram para que não me espancassem pois eu desconhecia as regras do bairro.
O líder do grupo deixou-me ir alertando-me que não iria ser misericordioso na próxima vez.



Na minha época, as crianças ciganas eram alvos de violência por parte do resto das crianças. Mas as crianças ciganas sabiam defender-se. Uns defendiam-se demasiado bem e passavam a ser também  pequenos rufias nos recreios e a fazer rivalidade às restantes crianças.


 Outros, refugiavam-se no poder da união e decidiam afastar-se e brincarem juntas sem dissolverem o grupo de modo a manterem-se unidas e protegidas uns pelos outros.


Haviam outros casos em que conseguiam chegar a um consenso após um raspanete dos professores, e os problemas desapareciam sozinhos. Agora é diferente. Agora as crianças ciganas ou deixam-se violentar pelos outros, ou viram os vilões da escola.




Quando eu trabalhava, tinha imensas queixas (algumas vezes eram descabidas e até injustas) por parte de alguns encarregados de educação e do corpo docente.


Conversei com as “minhas” crianças, e aconselhei a que eles tomassem uma atitude diferente.
Se alguém lhes batesse, ofendesse, gozasse, humilhasse, que se dirigissem às funcionárias para pedir auxilio, e que depois apresentassem o caso aos professores. Sempre educados e não participativos da violência.



E assim foi. Semanas depois os professores param-me na rua,admitindo que a maior parte dos casos, afinal não tinham partido por parte das crianças ciganas, e que só agora se tinham apercebido disso. 

Acontece que, agora que as crianças ciganas tinham tomado uma atitude diferente, de silencio e abstinência, fez que as outras crianças se aproveitassem da situação. 

Tinham-se apercebido que os actos de violência por parte das crianças brancas tinham aumentado significativamente. E que não percebiam o porque é que os ciganitos não se defendiam, quando eles sabiam fazê-lo tão bem.


Eu fiquei a ferver. As crianças não se defendiam porque eu mesma pedi para fazerem isso.
Quando as crianças saíram da escola confrontei-as com essa situação. 

E perguntei o porque de não terem, no mínimo, feito queixa às funcionárias.
As crianças diziam que quando elas faziam queixa, as funcionárias o que respondiam era o seguinte:



- Desenrrasquem-se!


Ai é?... muito bem.... alguém vos tem batido ou gozado?

- Sim Tânia, ainda hoje o Diogo bateu à Simara, puxou-lhe pelos cabelos e atirou-lhe os livros ao chão.


- Ok.. apartir de amanha, quando isso acontecer, espanquem tudo!

Foi um mau conselho? Talvez sim, talvez não.



Alertei os professores, apaziguei os pais das crianças ciganas, sensibilizei os pais que tinham filhos rufias, conversei com as funcionárias, chamei à atenção dos pais dos rufias que não eram ciganos, e desculpei-me aos que eram pais de alguma vitimas.



O comportamento por parte das minhas crianças mudou drasticamente, para melhor. No entanto, os problemas continuaram a surgir. Mas serem mal tratados sem puderem se defender?
O meu conselho passou a ser outro:


-  Nah.. se eles te baterem, bate de volta, a vida é uma selva meu amor. Que a violência nunca parta de ti, mas quando eles te baterem, bate a dobrar.

Até que ponto é que nós, ciganos, estamos conscientes do que se está a passar?



Uns ainda vivem convencidos que a maior parte das instituições que alegam ser “ajudantes” da causa dos ciganos, são realmente amigos seus.
Não, não são.

 Os ciganos que colaboram nestas instituições só servem para meninos/as de recados. Fazem o serviço que os doutores/as não querem fazer. Trazer e levar recados.


Servem para apagar os fogos que se propagam por vezes. Servem para irem levar recadinhos delicados. Servem para serem os cavalinhos de Tróia e varinhas mágicas. E ai deles que não levem bons resultados. 

Se os bons resultados não são apresentados são acusados de incompetentes e de maus agentes de mobilização.




No meu percurso de mediação e luta pela mudança, pude ver, que os amigos e as entidades que se preocupam de verdade, pessoas com corações humanitários, e que querem ajudar a remar esta maré tão brava, são poucos. 


Tive o privilégio de conhecer alguns e de ter colaborado com eles.
Será que sou eu que sou amarga? Ou será que é verdade que de vez em quando, escolhem um cigano para o levarem à televisão, ao jornal local, a uma viagem para o exterior, a uma palestra, a um congresso, de forma a mostrar aos senhores grandes patrões que realmente estão a fazer algo de jeito com o dinheiro que lhes dão?



Os ciganos falam meia duzia de palavras, todos aplaudem, e fica-se por aí.

Convém que o mundo saiba que se importam com as pobres coitadas minorias, e que até de vez em quando dão lhes oportunidades para falar. 

Eu mesma fui macaquinha de show muitas vezes, admito isso. Na altura não tinha a experiência que tenho hoje, e pensava que realmente as pessoas estavam mesmo preocupadas com a situação, que queriam ajudar, que queriam nos ouvir, que procuravam conselhos. 

Mas não. Vi que muitas vezes não passei disso. De uma macaquinha de circo.

O mesmo acontece com a Malala Yousafzai. Para quem não conhece, Malala é a pessoa mais jovem galardoada com um prémio Nobel da Paz.

Malala é paquistanesa e foi vitima de um atentado por parte de um miliciano que estava vinculado aos talibãs. Dispararam sobre ela várias vezes enquanto ela ia para a escola.


Sobreviveu e hoje é uma forte defensora dos direitos humanos, e luta pelos direitos das mulheres no seu país.
Mas queridos, sejamos sinceros, alguém já ouviu algum discurso da Malala? Ela não sabe bem o que diz. Ou mehor, não diz nada de especial.



“Ola eu sou a Malala e eu queria muito ir para a escola. A escola é fixe, todos os meninos devem ir à escola, a escola é boa.”




Basicamente é o que ela diz, e deram-lhe um prémio Nobel.


Não me interprete mal, eu admiro muito a menina, e desejo que muitas mais como ela se levantem por favor.Nota-se que a Malala deseja com todo o seu coração uma mudança. E é por isso que eu a admiro.

Mas o mundo adora este tipo de situações.



“Olha esta paquistanesa, levou um tiro porque queria estudar. É perfeito, vamos leva-la à televisão, dar-lhe um prémio, ela diz um par de coisitas, as pessoas aplaudem, pagamos-lhe o jantar ela fica toda contente, e assim o mundo fica a pensar que nós realmente nos preocupamos com estas coisas. Agora, para celebrar os nossos bons salários, façamos um brinde com este vinho de mil euros.”



E a menina lá vai fazer-se de marioneta, quando na verdade o que ela queria era jantar com a família e poder continuar a fazer as suas atividades em prol dos direitos das mulheres. Coitada, todos se querem gabar da Malala. 

Quantas Malalas existem por aí que também são alvos de violência e que andam a trabalhar nos terrenos? As outras meninas que a acompanhavam nesse dia também foram alvos do tiroteio. Só que a Malala, infelizmente para ela, foi a única a ser atingida.  


É por isso que a torna diferente? É uma mina de ouro, essa é a diferença. A menina acaba sempre por doar os prémio para a solidariedade social. Ao menos ela mostra o caráter que os doutores que se gabam dela, não tem.





E com os ciganos é a mesma coisa. As instituições que se erguem para lutarem pela famosa inclusão dos ciganos na sociedade, muitas delas, não querem saber nada disso. Apenas querem assegurar o seu salário chorudo por mês. Isso sim. 


Trabalhar com ciganos está na moda. Isso de trabalhar com os negros já deu o que tinha a dar. E não tarda nada, serão os imigrantes romenos a dar bons dinheirinhos.



Na noite de natal, a minha família dedicou um tempo a conversar sobre este tema. E fiquei contente em saber que a final não só sou eu que sente estes medos, e que até opinavam o mesmo que eu.


Sabem o que vai acontecer? Um novo holocausto irá se erguer. Sente-se no ar o cheiro de uma nova guerra mundial. E só aquelas famílias ciganas que tenham um contacto privilegiado ou uma relação de amizade com pessoas que não são ciganas é que terão alguma chance.


Os restantes? Vão ter medo de sair de casa, serão desalojados e obrigados a viverem em abrigos separados das famílias. As mulheres seremos todas esterilizadas, e seremos espancados na rua. E dirão que a culpa é nossa, que fomos nós que não quisemos uma inclusão. 


E não adianta negar que somos ciganos. Eles sabem quem nós somos, conhecem os nossos apelidos e as nossas famílias. Já está a acontecer, isto não são previsões futuristas. O que acabo de dizer já está acontecer.  




Os sortudos? Os sortudos pode ser que tenham uma informação antecipada do holocausto, por parte do tal contacto privilegiado, e que a família tenha posses económicas para viajar para outro sitio e façam uma nova vida longe da cultura cigana.


Outros que mantiveram essas boas amizades, pode ser que sejam escondidos em alguma cave ou sótão.


Exagero?... espero que sim. Mas acredito que não. Um extermínio silencioso ocorre bem frente aos nossos olhos. Temo o dia em que deixe de ser silencioso.


Será que tudo isto que acabo de dizer tem lógica e é de pensar?
Ou será que sou eu que acordei de mau humor?



Pelo sim, pelo não, vou começar a mandar mensagens aos meus amigos que não são ciganos para assegurar um lugar cómodo nas suas caves.


Tânia.

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