sábado, 10 de janeiro de 2015

Eu não sou Charlie

O que aconteceu em Paris foi algo que me abomina.
Nada, mas mesmo nada, justifica este tipo de atitudes por parte dos irmãos Kouachi.


Quando comentei este caso no meu Facebook, despoletou vários comentários, de várias pessoas, que neste caso, estavam contra mim. Contra aquilo que eu disse.
Como ainda não mudei de ideias, decidi falar sobre este caso aqui no Blog também.




Vamos falar de todas as vertentes deste caso. Os dois irmãos, muito jovens, decidiram atacar o jornal, policias e civis. O resultado desta barbaridade foram 12 mortos, e posteriormente, 4 reféns também foram mortos.

Por muito que existam coisas que nos desagradem, pessoas que nos provoquem e que até nos humilhem, nada justifica sair de casa com uma metralhadora e matar tantas pessoas, só porque nos sentimos ofendidos.




O que é que este atentado gerou?
A família e os amigos dessas vitimas encontram-se num estado devastador como todos devemos calcular. Eram pessoas comuns. Que acordavam cedo, iam trabalhar, tinham filhos, sobrinhos, viam desporto com os amigos, iam às compras com as vizinhas, pessoas como tu e eu.



 E que hoje já não estão. Nesse dia, eles não voltaram para casa. Não estão porque houve umas pessoas que acordaram com o pé esquerdo, e saíram de casa com o objetivo de destruir a vida dessas pessoas.



Mas agora, eu quero dar, novamente e mais detalhadamente, a minha opinião sobre o caso.


Ok... o jornal era muito engraçado, satíricos e irónicos e pessoas super super super hiper mega engraçadas que dedicavam o seu trabalho a criar esses cartoons.
Estiveram semanas seguidas a “gozarem” ou a criticarem, ou a comentarem, whatever, já ouvi de tudo, sobre o islamismo, Maomé, sobre os judeus também.



“Ah, liberdade de expressão, ah eu sou livre, ah eu digo o que quero, ah liberdade liberdade bla bla bla”


Só me apetece dar-lhes um murro.




Uma coisa é haver liberdade de expressão, outra bem diferente, é gozar (foi o que fizeram, não há outro nome) com as culturas e religiões das outras pessoas. 


Porque não gozam as SUAS baguetes? Com os SEUS croissant’s,  com a SUA gastronomia, ou com as SUAS mães? Porque é que se tem de gozar com o mundo islâmico de essa forma degradante e com essa carga massiva de racismo?



“Ah agora ter sentido de humor é algo perigoso bla bla bla”



Existe o humor, e existe a falta de respeito. E o que esse jornal fez foi faltar ao respeito. Não tem respeito por ninguém. Lamento, é a minha opinião.



REPITO novamente que em nenhum momento estou a defender a atitude dos terroristas ou o terrorismo, e sinto-me sensibilizada para com as famílias e os amigos das vitimas. Mas vou ser muito sincera:


Já cansa ser alvo de risota para entreter os outros. As pessoas não são marionetas. Querem ser engraçados e dar uma de satírico que é muito in, sejam com o vosso país, com os vossos cidadãos, com as vossas mães. O sentido de humor do ocidente não é interpretado da mesma maneira que no oriente.



Quem diz o que quer, ouve o que não quer.

Muitas pessoas leram e viram isso. Mataram alguém? Não. Muitos judeus leram e viram isso, mataram alguém? Não.
Porque são pessoas com dois dedos de testa, mas isso não significa que não se sintam incomodados, ofendidos e magoados.




Caramba! Quantas e quantas vezes, eu não me afastei de pessoas (que não vou nomear por respeito a essas pessoas, apesar de não merecerem respeito nenhum) e de situações, só para eu não dar lugar à minha raiva e meter a pessoa no hospital com uma sova? Muitas.




Não tenho vergonha de admitir isto. Sou humana e também tenho sentimentos, sejam eles bons ou maus. E este tipo de situações, em que sinto que estou a ser insultada, em que estou a ser alvo de risota, magoa muito. 


Até que há um dia, em que a tampa salta, e as pessoas chiques que me estão a gozar ou a ofender, correm o risco de ficarem sem dentes.



Como eu não quero dar lugar isso, prefiro afastar-me, ofendida, para o meu canto. E engolir a vontade de partir-lhe as pernas e deixar-lhe com um caminhar novo.

Claro, porque se um “branco” fizer isso, é porque foi provocado, foi um pobre coitado humilhado, e errar humano, e foram os nervos à flor da pele, e coitado é porque ele anda a passar uma má fase.


Mas se for alguém de cor, já é um monstro, um selvagem, é porque todos somos iguais.

Confesso, se eu estivesse semanas e semanas a abrir o jornal e a ver um cartoon a gozarem com a minha cultura, com as minhas tradições, com o nosso dialeto, com os nossos anciãos, com a minha religião, eu não iria:


“Oh oh oh oh mon Dieu, que engraçados são estes senhores, oh oh oh oh oh que me parto de riso”




Não.. essa não seria a minha reação. A minha reação seria ou de tristeza, ou de raiva. Dependendo do meu estado de espírito.

Confesso ainda também, que se o meu estado de espírito fosse de raiva, sempre que eu visse esses cartoons, sentiria-me muito tentada em ir ao jornal, e acertar-lhes com um pé de cabra na cabeça.



Porque é tão difícil admitir isto? Porque as pessoas tem vergonha de admitir isto? Porque é que eu sou mal vista por dizer isto? É a verdade! Sou um ser humano, e com isso entendo que uma coisa é ter sentido de humor e liberdade de expressão. Outra é  faltares ao respeito e espezinhares a minha pessoa, o meu povo, ou a minha religião, e ainda incentivar ao resto do país para que se riam com eles, de mim.




A maior parte da cultura muçulmana quer estar sossegada a rezar , outros a cuidar das suas cabras. No entanto, são todos rotulados como terroristas. Um muçulmano entra num avião e os outros ficam a tremer. No dia seguinte do atentado de Paris, uma mesquita foi atacada em França. Em Lisboa também aconteceu. Apareceu no jornal? Não.


Todos aqueles que não se entregaram ao fanatismo (seja da religião que seja), não entende a atitude dos terroristas. Ofendidos? Sim, magoados? Sim. Mas que não se justifica matar aquelas pessoas todas, em nome de Alá ou do seu profeta.


Ou seja, nem eu, nem eles, defendemos a atitude dos terroristas. Mas eu não posso estar de acordo com alguém que faz da sua profissão gozar os outros. O respeito é muito bonito e cabe em todo o lado.


Eu não posso rir-me ou estar de acordo com isto:









Finalizo o texto, com as palavras do Pastor Samuel. Um pastor que dirige uma igreja em Paris, e que no seu mural escreveu o seguinte:




Ser ou não ser Charlie? Esta é a questão que muitos estão a discutir...
Como pastor de uma comunidade em Paris, de gente que está a viver de perto toda esta situação, sinto-me impelido a partilhar algo convosco
.



Se ser Charlie significa identificarmo-nos com aqueles que foram vítimas desta tremenda barbárie, claro que sou Charlie...



Se ser Charlie significa sofrer com as famílias, os amigos das vítimas, obviamente que também eu sou Charlie.



Se ser Charlie significa não nos rendermos ao terror, ao fanatismo, ao assassinato, eu também sou Charlie...




Agora se ser Charlie significa identificar-me com o jornal, com a sua política editorial, com a sua forma de fazer jornalismo então não... eu não sou Charlie, nem nunca serei.



Se ser Charlie significa aceitar que usamos a liberdade para ofender, blasfemar e provocar os outros só por causa da sua fé ou convicções religiosas, sociais ou morais, não só não serei Charlie como me oporei fortemente ao que representa esse Charlie.


Dito isto reafirmo que nada, mas mesmo nada, pode justificar o que temos vivido nestes dias em Paris, o assassinato, o terror, a ameaça, não têm justificação possível.



O cristianismo é o exacto oposto de tudo aquilo que temos visto: é amor, perdão, paz e vivência pacífica com aqueles que defendem e pensam de maneira diferente. Aproveito também para lembrar que em 2013 mais de cento e vinte mil cristãos foram mortos por causa da sua fé, sim simplesmente porque crêem em Cristo, e por isso hoje tenho muita vontade de dizer que EU SOU CRISTÃO...



Oremos por Paris e por aqueles que neste momento estão reféns do terror.
Que o Senhor nos guarde e tenha misericórdia desta grande cidade...



Faço suas, minhas palavras pastor. Que Deus o abençoe.





Tânia.



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